Scott Paiva tem 18 anos e dá pela testa de Barack Obama.
"Tenho 1,83 metros", responde do outro lado do Atlântico, de New Bedford, no Massachusetts (Leste dos EUA). A pergunta é automática quando se olha para a fotografia tirada segunda-feira na Casa Branca, em que Scott está ao lado do presidente americano. Por motivos de segurança, as câmaras pessoais ficaram à entrada, num espaço onde reina a objectiva do fotógrafo oficial da Casa Branca, Pete Souza, que tem origens açorianas. A história do bom aluno especialista em impostos, que esta semana teve direito a um aperto de mão presidencial, também começa em Portugal, há quatro gerações. Scott não fala português, mas veio passar o último Verão a S. Miguel. As raízes ficam um instante de lado para falar do feito.
No semestre antes das férias, no último ano do liceu de New Bedford, um professor pediu à turma de futuros caloiros para traçarem um plano de negócios, desafio lançado anualmente pela Network for Teaching Entrepreneurship (NFTE), uma organização sem fins lucrativos destinada a "ajudar jovens de comunidades pobres a formar competências e a libertar a sua criatividade empreendedora". O seu projecto, uma empresa que ajudaria os jovens da cidade universitária de Boston a lidar com declarações de impostos e outras burocracias, foi um dos melhores, e passou à competição inter-turmas da escola. Ganhou outra vez e foi ao duelo regional, em Boston. Passou e chegou à fase nacional. A gravata oficial da presidência Nova Iorque, 7 de Outubro: "Às oito da manhã éramos 28 candidatos. Às sete da noite já só éramos três, fiquei em terceiro lugar", conta Scott, entre repetidos "não estava nada à espera". Em poucos dias, tornou-se numa pop star em New Bedford, onde há uma grande comunidade de imigrantes portugueses. Recebeu perto de 4000 euros durante toda a competição para arrancar com uma start-up providencial para jovens menos desenrascados com o fisco. "No fundo, é um negócio que já corria na família", diz. O pai, nascido na vila de Rabo de Peixe - e que também apertou a mão a Obama - e a mãe, de Ribeira de Chã, conheceram-se em New Bedford e têm uma empresa de serviços relacionados com impostos. "Obama apertou-nos a mão, falou cinco minutos conosco e deu-nos a gravata oficial da presidência." Uma gravata oficial da presidência? "Sim, havia melhor souvenir para trazer da Casa Branca?" Scott-futuro-homem-de-negócios ri-se.
A visita começou com duas horas a conhecer os recantos da Casa Branca e terminou na sala oval. Foram acompanhados por uma comitiva da NFTE até ao escritório do presidente. "Éramos oito, mas na sala ao lado viam-se seguranças e pessoal dos serviços secretos, just in case", volta a sorrir. "Quando entrámos, ele já sabia os nossos nomes e quais eram os nossos projectos. Disse-me: 'Acho que a tua ideia podia dar jeito ao pessoal do meu gabinete.'" Fora da televisão e do barulho das luzes, "é difícil descrevê-lo", diz Scott. "Pela forma como nos apertou a mão, pelo interesse que tinha no que estávamos a dizer, pela forma como nos olhava directamente nos olhos, pareceu-me uma pessoa muito centrada". Para já, garante, não trocava as finanças pela política. "É muito desconcertante para alguém da minha idade conhecer o presidente, mas acho que vai ajudar-me." Lição: "Nunca desistir de uma ideia."
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