Uma nova geração de franco-portugueses chega ao poder em França, após as autárquicas de domingo marcadas pela maior participação de sempre da comunidade lusófona a viver no país. São presidentes da Câmara e vereadores que reflectem o peso político cerscente de mais de um milhão de eleitores potenciais.
Os resultados eleitorais dos candidatos portugueses às municipais francesas também espelham a "vaga rosa" que marcou o sufrágio de domingo. Só na região de Paris foram 179 os franco-portugueses eleitos, 80% dos quais em listas de esquerda. Uma das vitórias mais sonantes foi a de Alda Pereira Lemaitre, de 42 anos, que bateu o opositor Nicolas Rivoire por 51,7% dos votos em Noisy le Sec. À frente de uma lista de "união de esquerda socialista, ecologista e cidadã" foi uma das candidatas franco-portuguesas mais apoiadas pelo aparelho do PS francês. Desde o início da campanha foram vários os notáveis da formação que desfilaram ao lado da candidata, do antigo primeiro-ministro Laurent Fabius à ex-candidata presidencial Ségolène Royal que, na semana passada se deslocou à cidade. Esta assistente comercial e autora de livros para crianças vai tomar posse, sexta-feira, como presidente da Câmara, tendo nomeado como adjunta para as relações inter-comunitárias, a antiga ministra socialista, Élisabeth Guigou, que também integrava a sua lista. Afirma querer aplicar no município os métodos de Ségolene Royal. "Quero, como ela, aproximar o poder dos cidadãos, vamos convocar Estados Gerais sobre temas que vão do emprego ao alojamento e criar comités de bairro para acompanhar a implantação de novas medidas". No seu programa social incluiu medidas como a geminação da localidade com uma cidade portuguesa e a criação de cursos de português para os filhos de emigrantes. Natural da Covilhã não hesita em lembrar, que é "da mesma região onde nasceu o primeiro-ministro socialista José Sócrates".
António de Carvalho de 46 anos, há quase 40 anos em França, conseguiu o feito de ser um dos poucos conservadores a arrebatar uma câmara detida pela esquerda há 30 anos, e por uma diferença de qautro votos. Venceu a câmara de Brou-sur-Chantereine (Seine et Marne) com 50,13% de votos. Dono de uma empresa de estatuária, afirma que a primeira prioridade como presidente da câmara será a de realizar uma auditoria às contas da municipalidade. Confessa que, "as origens portuguesas nem sempre são uma vantagem para um candidato", mas que foi, antes de mais, o seu empenho nas campanhas do partido, em especial para as presidenciais, que o levou a ser convidado para ser cabeça de lista.
Mas é entre os franco-portugueses eleitos vereadores que é mais patente a vontade de representar a comunidade portuguesa no poder local. O PS francês foi uma das formações mais activas no terreno no recrutamento e apoio a estes candidatos vindos de associações e organizações portuguesas. É o caso de Hermano Sanches, presidente da Coordenação das Comunidades Portuguesas de França que se torna o primeiro vereador franco-português de um bairro da capital, depois da lista de esquerda que integrava ter obtido 57,37% na segunda volta. O candidato convidado pessoalmente pelo presidente da câmara Bertrand Delanoë a integrar a lista do XIV bairro de Paris, afirma que a eleição é "uma oportunidade para levar a cabo medidas como a de incrementar o ensino do português na capital francesa e prosseguir campanhas de mobilização das comunidades europeias a residir em Paris". Também na região parisiense, em Corbeil-Essonnes, a lista do presidente da câmara conservador Serge Dassault resistiu à vaga rosa, obtendo 50,65% dos votos e propulsionando a franco-portuguesa Cristela de Oliveira para um possível cargo de vereadora da juventude. Com 29 anos, Cristela tinha ficado há anos à beira de se tornar uma das mais jovens deputadas no Parlamento francês. Exemplo de militância pela causa dos portugueses em França é também Manuela Ferreira de Sousa, eleita na lista de esquerda do presidente da câmara de Clermont-Ferrand, que obteve 51,70% dos votos. Nascida há 32 anos na cidade, a técnica de tráfego aéreo foi uma das mais ardentes defensoras da criação de uma ligação aérea Clermont-Porto, que chegou a funcionar durante dois anos. "Ainda não sei que cargo me vão atribuir, mas uma das prioridades é melhorar o acolhimento da nova vaga de emigrantes portugueses que chega à cidade, que não falam a língua e que muitas vezes têm dificuldade em encontrar trabalho".
No total, cerca de 80 mil portugueses foram às urnas no domingo, a maior participação de sempre de uma comunidade que após 40 anos de emigração discreta, mostra pela primeira vez o seu peso político nas urnas.
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