O Brasil está em festa. No sábado comemora 200 anos sobre a data em que passou de periferia a centro das atenções. No dia 8 de Março de 1808 chegou ao Rio de Janeiro D. João VI, fugido das tropas napoleónicas que chegavam a Portugal, e a cidade tornou-se a capital do Império. O episódio foi tão importante para a História de Portugal como para a do futuro Brasil. E foi isso que Lula da Silva lembrou a Cavaco Silva na carta em que o convidou para estar presente nas celebrações: "Venha, para podermos comemorar juntos." A carta teve resposta positiva.
Na quinta-feira parte para o Rio a comitiva presidencial - mais pequena que a de 1808, 15 000 pessoas. Cavaco Silva vai participar na inauguração da principal exposição que comemora a data e numa série de outros eventos. Na comitiva vão as individualidades políticas - o ministro da Cultura e o secretário de Estado das Comunidades - e uma delegação dos que coordenaram a parte portuguesa das comemorações à qual se juntam alguns dos autores que escreveram sobre o assunto.
É importante a participação de Cavaco Silva, lado a lado com Lula, nestas comemorações. A família real portuguesa tinha, até há pouco, uma má imagem que contagiava a de todos os portugueses do outro lado do Atlântico: D. João ficou para a História como fraco, Carlota Joaquina como uma histérica, D. Maria I, a louca. As várias investigações feitas sobre este facto extraordinário de D. João VI ter sido o primeiro rei a pôr o pé numa colónia mudaram as coisas. E hoje ele é visto como um soberano estratégico. "O único que me enganou", dizia dele Napoleão, como refere o principal livro publicado nas comemorações, 1808. O prefeito do Rio, empenhadíssimo nas comemorações que dão impulso à cidade, escreveu um artigo no jornal O Globo, intitulado "Em defesa de D. João VI".
A mudança é de tal ordem que, como notaram os assessores de Cavaco Silva na viagem preparatória, até o nome de Carlota Joaquina foi dado a um viaduto no Botafogo. Saiu uma BD com o título D. João VI, o Carioca. Séries de TV estão a explicar o fenómeno à gente comum. E o fenómeno é, simplesmente, a fundação do Brasil como país. Com a chegada do rei foi inaugurada uma série de infra-estruturas, nomeadamente a imprensa. Os brasileiros estão a mudar a História da forma calorosa como o costumam fazer: adoptando e dando uma imagem humana às pomposas figuras históricas portuguesas. Revolucionar esta imagem do passado é também importante para os portugueses do presente no Brasil, país cada vez mais importante economicamente para o mundo. Talvez por isso Cavaco Silva deu como mote para esta viagem: "Festejar a história do passado e usá-la como instrumento para a do futuro."
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