Nas últimas semanas a clivagem entre as duas alas do PS tem sido flagrante: primeiro na questão da saúde, levando ao afastamento do Ministro Correia de Campos e agora com críticas abertas à actuação de Mariade Lurdes Rodrigues na educação. No primeiro caso o ministro cessante foi substituído por uma apoiante de Manuel Alegre, no segundo é também pessoa próxima de Alegre que lidera a contestação pública dos socialistas à reforma de Sócrates na educação. É pois uma altura interessante para recordar um episódio da vida de Manuel Alegre que os seus apoiantes gostam de esquecer e que a maior parte das pessoas já nem se recorda. O caso remonta a 12 de Fevereiro de 1977, há 31 anos, quando Manuel Alegre tinha responsabilidades governativas na área da Comunicação Social e decidiu extinguir a empresa do jornal O Século de um dia para o outro. Vamos fazer um bocadinho de história: o jornal O Século foi criado em 1880 por um republicano, Magalhães Lima. Ao longo dos tempos teve ilustres directores como Vitorino Nemésio e João Pereira Rosa e durante muitos anos foi o jornal mais vendido do país. Desde cedo a empresa evoluiu no sentido da constituição de um grupo editorial, que editava revistas como O Século Ilustrado, além de manter uma obra social importante através da Colónia Balnear Infantil em S. Pedro do Estoril, cujas receitas vinham, em parte, da Feira Popular, que era também apadrinhada pelo jornal. Pelo grupo do Século passaram alguns dos maiores jornalistas, colunistas e repórteres fotográficos portugueses – foi aliás ali – pode dizer-se – que nasceu o moderno fotojornalismo em Portugal. Após o 25 de Abril, tal como o Diário de Notícias aliás, O Século foi “tomado”por sectores próximos do PCP, que rapidamente radicalizaram o jornal e delapidaram as suas audiências e colocaram a empresa em situação difícil. Num clima ainda conturbadodo pós 25 de Novembro, com um PS sequioso de estancar a influência do PCP na informação, Manuel Alegre decidiu, de um dia para o outro, alegando uma crise financeira que aliás tocava outros jornais de igual forma, fechar O Século. Foi uma decisão política, muito mais que económica. Pior: nem sequer procurou salvaguardar o precioso arquivo de 100 anos de História de Portugal que estava no edifício do grupo editorial e que em boa parte se perdeu. A razão de ser desta nota, é só para lembrar alguns desmandos de figuras de esquerda hoje intocáveis, como Manuel Alegre. Por causa das coisas…
Por Manuel Falcão in Jornal Meia Hora
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