in DN
Nove candidatos e uma campanha relativamente tranquila. Foi mais ou menos assim que comecei o último artigo sobre as presidenciais de Timor-Leste e é assim que retomo o tema para a Guiné-Bissau. Com histórico acidentado e convulsivo, podíamos esperar o pior depois da morte, em Dezembro, do Presidente Sanhá. Não foi isso que aconteceu. A transição acabou por ocorrer sem grandes incidentes e o chefe do Governo, Carlos Gomes Júnior, pode dedicar-se em exclusivo à candidatura presidencial, cargo que muito provavelmente conquistará. Como o próprio reconheceu, é ele o "candidato natural" do PAIGC, num misto de inevitabilidade e ambição pessoal. A questão é saber se estas eleições podem ou não marcar um período de estabilidade e reformismo de que a Guiné-Bissau tanto precisa. Depende de vários fatores. O primeiro está em saber o nível de reação que as reformas na justiça e na segurança provocam entre os feudos criados. Tendo em conta os últimos anos, é ver para crer o seu sucesso. Contudo, há dois outros fatores que podem ser vantajosos. O primeiro é o facto de Carlos Gomes Júnior reunir o apoio de Angola e de esta ser fundamental como parceiro de Bissau. Foi quem abriu uma linha de crédito importante no ano passado e quem sustenta basicamente a reforma do sector de segurança. Luanda tem duzentos militares na Guiné e mantém todo o interesse na estabilidade do país para melhor potenciar as contrapartidas económicas e geopolíticas. Num quadro de crescente desinteresse da União Europeia, é Luanda quem surge. O segundo fator é interno e passa pelo esvaziar da rivalidade entre Presidente e primeiro-ministro, podendo Carlos Gomes Júnior, com um executivo favorável eleito ainda este ano, concentrar poder e autoridade num cargo só. É verdade, pode ter efeitos negativos, mas pode acabar por ser apaziguador se convenientemente aproveitado. É ver para crer.
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