sábado, março 24, 2012

PSP anjinhos de polícia


É muito curioso ver por caixas de comentários e redes sociais as reacções às agressões a dois jornalistas e a uma intervenção que classifico desde já desproporcionada por parte da PSP.

As opiniões dividem-se entre os comentadores, entre os que defendem a polícia e outros os manifestantes, e há até aqueles que vituperam os jornalistas.

Entre comentadores "policias", existe sobretudo uma grande vitimização e um ladainha sobre provocações e stress, ou até um grande texto partilhado por muitos no facebook de um estado de alma de um polícia que invoca o trabalho heróico da PSP.

Como em todas, e repito todas, as profissões existem bons e maus profissionais, incluindo nos jornalistas e polícias.

Nesta situação em concreto são reveladas várias insuficiências dos profissionais da PSP. Insuficiências graves, que apagam o trabalho dos bons profissionais da corporação. E desde logo é este termo corporação que é fonte de muitos dos problemas da imagem da PSP e outros polícias perante a opinião pública.

Primeiro de referir que não me revejo de todo no género de manifestante presente na ocasião. Conheço o género, e sei, como os polícias sabem, que são "profissionais" da agitação e da provocação. A PSP soube sobretudo entrar no jogo dos manifestantes e cair na esparrela. Os objectivos daqueles manifestantes foram completamente cumpridos. Daí a minha expressão anjinhos no título.

No seguimento revelam-se sobretudo as insuficiências dos elementos da PSP. Primeiro de formação... só pode, imagino eu... isto porque um órgão de policia não pode "amuar" perante provocações, e responder com violência. O monopólio da violência por parte do estado serve para proteger os cidadãos e os seus interesses, não para "impor" a ordem, esse termo tão ao gosto das instituições policiais que serve de capa para atropelar os direitos mais fundamentais dos cidadãos.

A força de policia serve sobretudo para conter potenciais atropelos aos direitos de terceiros, identificar e deter os elementos que estejam a cometer delito, não serve concerteza para fazer razias ao estilo medieval e impor à força da bastonada um auto-delineado conceito de ordem pública.

Não me recordo por exemplo durante os motins na Inglaterra de a polícia ter agido atropelando os direitos dos cidadãos, mas esse é um país habituado à democracia, e instituições geneticamente imbuídas de respeito pelo cidadão, ao contrário das nossas que ao fim de 35 anos ainda demonstram tiques de autoritarismo.

E reparem que ainda nem falei do caso do caso dos jornalistas, esse também gravíssimo, e qual foi a resposta da PSP. Carteiras profissionais caducadas, e coletes de identificação. Tudo bem organizadinho e controladinho, por isso bem democrático!!!

Voltamos à formação e ressalvo esta passagem no jornal i de um polícia do corpo de intervenção: “Tenho a certeza de que, 20 minutos depois da bastonada à jornalista, o agente arrependeu-se e muito, pois a cara dele está nos jornais” 

Entre outras pérolas destas, isto revela que não fosse a foto (o que só demonstra isso sim a importância dos jornalistas) que a questão do direito da senhora a fazer o seu trabalho ou pura e simplesmente integrar uma manifestação nem se punha perante os polícias. Arrependeu-se porque houve uma foto nos jornais em todo o mundo, como seria sem foto. Revela a profunda falta de cultura democrática destes senhores.

Não ponho em causa que é difícil trabalhar como polícia naquelas condições, mas é para trabalhar naquelas condições que treinam e são pagos, pelos cidadãos que que agrediram. Já sem falar em jornalistas, eu não acho normal que seja a polícia a varrer uma esplanada, como não acho normal polícias agredirem e derrubarem pessoas que claramente nada têm a ver com os provocadores, como um video de uma senhora loura que é jogada ao chão quando nem estava na manifestação, como não acho nada normal polícias a pontapear cidadãos enquanto eles estão prostrados no chão, portanto sem serem ameaça; como não acho nada normal um policia aplicar um golpe de kickboxing, uma joelhada na cabeça de um jovem.

São acções dignas de um país centro-africano, o que revela ou falta de formação e profissionalismo, ou então uma profunda falta de perfil dos elementos que compõem aquela unidade da PSP.

Não é também nada normal que se veja em videos, Polícias a tentar controlar polícias, só me resta deixar pelo menos um obrigado pelo civismo e profissionalismo desses elementos.

Quando sabemos que a percepção pública é de uma inactividade das forças policiais nas verdadeiras necessidades das populações, casos como nem entrarem em certos bairros ou não patrulharem as zonas que devem, ou acorrer a um incidente horas após o sucedido limitando a acção a tomar conta do ocorrido criando a ideia que é propositado, e por outro lado uma implacável sede de aplicação de multas, não podem certamente ficar admirados que após um caso da mais elementar falha por parte da instituição as pessoas os insultem e olhem com completa desconfiança para a PSP.

Quando vi esta notícia "A PSP anunciou hoje que vai desenvolver na sexta-feira uma operação nacional junto aos centros comerciais, escolas, centros históricos e turísticos, interfaces de transportes públicos, zonas urbanas sensíveis e áreas de diversão noturna." só me apeteceu rir, porque não é exactamente esse o trabalho que deveriam fazer todos os dias!?

A questão do corporativismo também é fundamental, porque de caso em caso, a resposta da instituição limita-se ao controlo de danos de imagem e desculpabilização dos seus elementos. A impunidade no abuso do poder é outro dos principais motivos de conflito entre a sociedade e a polícia, porque num caso destes um real processo de averiguações seria expedito e puniria claramente e abertamente os referidos elementos da PSP.

Portanto a desconfiança grassa entre os cidadãos.


Já vai longo o texto, e muito haveria ainda por dizer... do caso fico com a certeza que muito há a fazer na PSP e é urgente qualificar os elementos que a compõem para que possam cumprir a sua razão de ser. Servir o cidadão.

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