Capital Economics vai mais longe e propõe fim da moeda única. Economistas portugueses consideram ideia inviável.
Competitividade alemã força Portugal a ajustar custos para poder competir em euros no exterior. Shäuble, ministro das Finanças diz que quem não for capaz deve sair do euro.
Portugal poderia evitar uma longa depressão económica e criar mais emprego se fizesse aquilo que muitos pensam, mas que ninguém admite em voz alta: sair voluntariamente da zona euro, defende o estudo "Por que o euro deve acabar", publicado pela Capital Economics, consultora britânica na área económica. Os economistas portugueses contactados pelo i admitem as dificuldades impostas pelo euro, mas rejeitam em bloco o canto de sereia de uma saída voluntária da moeda única.
"Não estamos em condições de sair da zona euro - o que não significa que ficar seja bom", comenta o economista Ricardo Paes Mamede, professor no ISCTE, em Lisboa. "Do ponto de vista económico seria muito difícil fazer a transição por factores como o facto de o país estar endividado sobretudo em euros", junta.
Para muitos observadores externos - sobretudo anglo-saxónicos - o eventual fim do euro ou a saída dos países mais fracos é uma questão passível de ser debatida. Ontem, numa longa reportagem sobre Portugal, o Financial Times apontava que "a noção de que a zona euro se pudesse fragmentar era vista pelos economistas como sendo absurda" e que agora passou a ser "meramente improvável". Não é só dos tradicionais "inimigos do euro" - norte-americanos e ingleses - que vêm as análises negativas: em Maio, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Shäuble afirmou que se um país do euro for incapaz de consolidar as suas contas ou de melhorar a sua competitividade "deve, em último recurso, sair da união monetária, mantendo-se como membro da União Europeia".
O pior é o esmagamento prolongado dos salários no sector privado para tentar recuperar competitividade externa. Com o investimento e o consumo apertados pela dívida e pelas dificuldades de financiamento, Portugal só pode contar com as exportações para crescer - e, para isso, terá de embarcar "num longo e doloroso" processo de deflação de preços e de salários. Para Portugal, isso representaria 20 anos sem crescimento económico - o suficiente para questionar os proveitos de pertencer a euro.
A Capital Economics aponta que a saída teria como vantagem a possibilidade de desvalorizar a moeda e aumentar as exportações sem um choque nos salários e preços. Em Portugal, a opinião não colhe apoios. "O país desvalorizou a sua moeda ao longo de décadas e isso contribuiu em nada para a subida da produtividade do país", aponta o economista Filipe Garcia, da consultora IMF, no Porto. Outro problema: o político. "Os que ficam no euro dificilmente aceitariam ver os vizinhos a ganhar competitividade à custa de desvalorizações cambiais", aponta Paes Mamede.
Depois há o facto de não existir uma saída ordeira do euro. "Quem tinha activos em Portugal quereria desfazer-se deles para evitar a desvalorização da moeda, investindo no estrangeiro", explica Paes Mamede. O estudo da Capital Economics diz que o buraco de fundos na banca - causado pela fuga de capitais - poderia ser compensado com financiamento externo ou do Banco de Portugal. Entretanto, o problema poderia ser compensado com depósitos suficientemente remunerados que atraíssem de volta o dinheiro. Quanto ao peso do euro na dívida, e sem falar no caso português, o estudo admite que seria necessário "algum nível de incumprimento ou reestruturação" da dívida.
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