Nicarágua quer levar o caso ao Tribunal Internacional de Justiça e ameaça deixar a Organização dos Estados Americanos.
Um erro no Google Maps deu origem a uma alegada invasão de militares da Nicarágua no território da Costa Rica, nas Caraíbas. O caso aconteceu há cerca de um mês, mas está agora a atingir proporções inéditas, com a Nicarágua a querer levar a disputa fronteiriça com a vizinha americana ao Tribunal Internacional de Justiça. Este domingo, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, ameaçou mesmo deixar a Organização dos Estados Americanos (OEA), protestando com uma resolução que considerou ser parcial a favor da Costa Rica.
Mas como aconteceu tudo isto?
A alegada "invasão" ocorreu em Outubro, quando as forças de segurança da Nicarágua foram enviadas para uma das margens do rio fronteiriço San Juan, com o intuito de controlar um projecto de dragagem. Há aqui uma parcela de terreno, a ilha Calero, que ambos os países da América Central disputam há 200 anos e este episódio só veio agravar a contenda. Segundo declarações de um dos oficiais nicaraguenses, o local de estacionamento dos militares foi deter- minado com base no Google Maps, uma referência que afinal estava incorrecta. A Costa Rica não gostou, acusou a Nicarágua de invasão e pediu à OEA que emitisse uma resolução condenatória.
A Google acabou por se desculpar na sexta-feira, dizendo que usou dados oficiais do US State Department que se revelaram pouco rigorosos. No entanto, o estrago estava feito: a presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla, já veio dizer que se trata de uma "urgência nacional" e que a dignidade do país está a ser "manchada", pelo que foram destacados cerca de 70 polícias para uma cidade próxima daquela zona.
A intervenção diplomática que saiu da reunião da OEA, na sexta-feira, acabou por piorar as coisas: a maioria dos países votou pela contenção do uso da força e por um encontro entre os dois países para resolver o problema, uma resolução que a Costa Rica saudou como "vitória" diplomática. O presidente nicaraguense não gostou e afirmou que a resolução "matou" qualquer possibilidade de solução através do diálogo.
"Por princípio, não vamos deixar qualquer área dentro do território da Nicarágua que faça fronteira com as nações fraternas Costa Rica e Honduras", disse Ortega. "E também não vamos tirar as nossas forças de qualquer fronteira marítima. Nem o exército nem a polícia que estão a lutar contra o tráfico de droga", concluiu.
Aliás, Ortega acabou mesmo por acusar outros países vizinhos, como o México, a Colômbia, o Panamá, as Honduras e a Guatemala, de terem votado a favor da resolução, por serem influenciados pela importância do narcotráfico na região da Costa Rica. Estas declarações polémicas levaram ontem a Costa Rica e o México a enviar notas de repúdio pelos "insultos e acusações infundadas". A Costa Rica afirmou que Ortega está a "lançar acusações imprudentes sobre tráfico de droga contra vários países da América Latina", acusando-o de o fazer para "distrair o seu povo da derrota monumental que sofreu" na resolução da OEA.
O que se segue agora é uma nova tentativa de intervenção diplomática, com algumas personalidades a dizerem que acreditam na resolução pacífica e célere do conflito. Quanto à Google, não há nada que possa fazer; nem sequer corrigir o Maps, sem que alguma das partes se insurja.
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