Filho de emigrantes da freguesia de Alheira (Barcelos), Jack Martins, republicano, 43 anos, é o primeiro lusodescendente eleito para o Senado de Nova Iorque após dura disputa legal.
A batalha pela vitória foi mais longa do que é habitual para Jack Martins, político republicano que, a partir de 1 de Janeiro, será o primeiro senador luso-americano no estado de Nova Iorque, representando quase o dobro da população que tem Portugal. 451 votos apenas o separaram do seu rival, o democrata Craig Johnson, que não aceitou a derrota, apesar de ela ter sido assumida pelo Departamento de Eleições do Condado de Nassau. O desfecho da disputa legal, que se arrastou durante mais de um mês após as eleições de 2 de Novembro, significa que, graças a Martins, os republicanos voltaram a ter o controlo do senado nova-iorquino.
"A redução do défice e da dívida do estado de Nova Iorque são as prioridades", disse o actual presidente da câmara de Mineola, na ilha de Long Island, onde foi responsável pela reestrutução fiscal do município desde que chegou ao cargo em 2003. Martins, de 43 anos, é contra o aumento de impostos porque acha que isso vair prejudicar os negócios. "Não é possível aumentar os impostos quando, com a crise, as empresas estão a afundar-se", afirma o autarca, dizendo que até agora não tem achado positivas as políticas da Administração Barack Obama.
Filho de emigrantes portugueses da freguesia de Alheira, no concelho de Barcelos, Martins mantém uma forte ligação à comunidade portuguesa e também a Portugal. "Nesta zona, temos uma grande comunidade, muito unida, que tem apoiado muito a minha carreira e a de outros lusodescendentes. Na minha vila há 20 mil habitantes e uma terça parte são portugueses ou seus descendentes", explica, num português perfeito, salpicado de sotaque minhoto.
Nascido no bairro de Queens, foi viver aos três anos para Mineola, onde hoje reside com os pais, a mulher e as quatro filhas. "Os meus pais emigraram à procura de melhores oportunidades nos anos 60. A minha família tem negócios no sector da construção civil. Acho que hoje, apesar da crise, ainda há aqui oportunidades que talvez não haja aí. Eu sou advogado, o meu irmão engenheiro, a minha irmã é médica. Não sei se teríamos tido essas oportunidades noutro país que não fosse os EUA", sublinha, explicando que apesar de tudo mantém uma forte relação com as suas raízes portuguesas e todos os anos visita Portugal pelo menos uma ou duas vezes para ver familiares e amigos.
A mulher, Paula, farmacêutica de profissão, também é lusodescendente. Os pais dela, oriundos de Leiria, emigraram, primeiro para a antiga Rodésia, hoje Zimbabwe, depois para os EUA. "As minhas filhas aprendem português em casa e falam um pouco quando vamos aí. O mínimo que podemos fazer é tentar dar aos nossos filhos um bocadinho das nossas raízes. Fazemos com que dobrem a língua", conta, entre risos. Ao contrário do que acontece com muitos emigrantes e seus descendentes, aquilo de que Martins tem mais saudades não é nenhum tipo de comida ou nenhum clube de futebol português.
"Ao longo de toda a minha vida sempre tive grandes amizades e contactos em Portugal. O que mais saudades me causa é o facto de haver uma cultura e uma história que é a portuguesa e que é realmente distinta de qualquer outra no mundo. Portugal tem a sua maneira de se expressar", refere, lamentando a situação económica e financeira em que o país de origem dos seus pais se encontra.
A crise afecta a todos, é verdade, mas algumas entidades e governos têm mais e melhores instrumentos do que outros para conseguir sair dela, constata o autarca do município de Mineola. "Portugal parece estar numa situação em que vai precisar da ajuda de outros", refere o político, que diz ser republicano por considerar que este é o partido das oportunidades nos EUA.
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