Duas equipas de investigadores portugueses participaram numa equipa internacional que conseguiu isolar o agente infeccioso da úlcera de Buruli, uma doença muito grave emergente nos países tropicais em desenvolvimento, sobretudo na África Central e Ocidental.
A descrição do isolamento desse agente, a Mycobacterium ulcerans, vem publicada na última edição da revista norte-americana PLoS NTD, acompanhada de um comentário, e a revista Science já lhe dedicou um artigo.
Ambas as revistas consideram a descoberta um "marco histórico" na investigação da úlcera de Buruli e um "ponto de partida" para a investigação futura sobre os reservatórios e a transmissão da doença.
Trata-se da infecção micobacteriana mais comum a seguir à tuberculose e à lepra, segundo os investigadores, e foi identificada em cerca de 30 países, tanto de África como da América Latina, Ásia e Austrália.
Embora descrita desde 1948, persistem muitas dúvidas sobre a transmissão, profilaxia e tratamento desta doença necrotizante da pele e tecido subcutâneo manifestada por úlceras cutâneas que podem atingir áreas extensas do corpo, desfigurando e incapacitando permanentemente os indivíduos afectados.
"Era já sabido que a úlcera de Buruli não se transmite por contágio directo entre pessoas e havia a possibilidade de a transmissão ocorrer a partir de uma fonte ambiental, nomeadamente em áreas perto de rios, pântanos e águas estagnadas", disse hoje o responsável por uma das equipas portuguesas de investigação, Jorge Pedrosa.
"Com esta demonstração de que o agente infeccioso virulento existe em insectos aquáticos nas zonas endémicas da doença, poderão desenvolver-se estratégias para evitar a sua transmissão aos seres humanos", acrescentou este investigador do Domínio de Microbiologia e Infecção do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho.
Manuel Teixeira da Silva, do Grupo de Imunologia de Peixes e Vacinas do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto, coordenou a outra equipa portuguesa.
"Sob o ponto de vista das experiências realizadas, as equipas nacionais demonstraram que o agente infeccioso era virulento, em modelos de infecção experimental, ao reproduzirem num murganho infectado as características da doença nos humanos", precisou Pedrosa, salientando que esse trabalho se prolongou por cerca de três anos.
O estudo agora publicado surgiu na sequência de uma projecto de colaboração entre os dois grupos de investigação portugueses e o da investigadora belga Françoise Portaels, do Instituto de Medicina Tropical de Antuérpia, uma cientista de renome mundial que estuda esta doença desde 1969.
A investigação envolveu outros investigadores de uma rede mais alargada que abrangeu os Estados Unidos e o Gana, e contou com um financiamento do Serviço de Saúde e Desenvolvimento Humano da Fundação Calouste Gulbenkian.
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