Raul Cunha considera que o investimento europeu podia ter sido mais bem canalizado, por exemplo para a construção de uma terceira central eléctrica.
O processo de entrada da missão da União Europeia (UE) no Kosovo está a causar o "descrédito completo" das Nações Unidas, única organização internacional cuja presença no território está sustentada numa resolução do Conselho de Segurança. Esta é a opinião do major-general Raul Cunha, alto-funcionário da ONU no país que proclamou unilateralmente a independência.
A UE, realça, entrou no terreno "sem uma resolução que lhe dê cobertura e sem um acordo com a ONU" e à custa de "pressão e insistência". "Já estão a instalar-se e a fazer afirmações", conta, criticando "alguns responsáveis europeus" que fizeram "declarações quase de guerra", que "ajudam à partição" do território (10% da população é sérvia e opõe-se à independência). O português acredita que, ainda que "não deliberada", a posição da UE "serve os interesses de alguns membros" da UE.
"Enquanto não houver reconhecimento ao nível do Conselho de Segurança [onde Rússia e China têm direito de veto e se opõem à independência unilateral do Kosovo], a ONU não pode sair do território". Existe, portanto, "um conflito de competências" decorrente da "coexistência de duas entidades no terreno", o que "tem reflexos na ONU", diz. "
"De um investimento de 4000 milhões de euros, desde 1999, 80% foram gastos em formação e consultoria", precisa. Nenhum problema, não fossem estes 3250 milhões voltarem "à base", "porque os consultores são sobretudo ingleses, e alemães e austríacos em menor escala". A UE "paga como um todo mas há dois ou três países que estão a ter lucro", acusa. "Podia ter-se gasto noutros sítios, Na construção da terceira central eléctrica. Passados nove anos continuamos a ter cortes de luz", exemplifica. "Não se criou indústria, não há nada em termos de estrutura produtiva, a agricultura está pela hora da morte, este país não pode viver de serviços e comércio", acrescenta.
O gabinete do MNE disse não ter comentários a fazer às declarações do major-general.
[Sintomático da ausência de uma posição concertada, em termos de política externa, ao nível da União.]
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