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Mas tornar a democracia mais directa e participativa não é o único traço vital do estatuto açoriano, tão ambicioso quanto uma Constituição. Com efeito, é ousada a terceira revisão do documento regulador da Autonomia, em larga medida porque os Açores exploram ao máximo alguns limites constitucionais, substituindo-se ao Estado em papéis que tradicionalmente sempre couberam a este.
No domínio puramente político, emerge a consagração do princípio do Adquirido Autonómico, que prevê que os direitos adquiridos - como é o caso das transferências orçamentais fixadas pela Lei de Finanças Regionais - não podem ser suspensos, reduzidos ou suprimidos pelo poder central. Ou então a preferência do Direito Regional, princípio segundo o qual, havendo uma lei nacional e outra regional que dispõem sobre a mesma matéria, é a lei regional que prevalece. Mas, se o estatuto for aprovado, virão aí outras mudanças radicais. Por exemplo, ao nível patrimonial: se um edifício do Estado não estiver a funcionar, passa a ser propriedade da Região. Se estiver a funcionar, então nesse edifício, além da bandeira nacional, a regional será também hasteada. Acresce que a tomada de posse do Governo Regional passará a estar sob a esfera da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (a designação Regional será eliminada) e não do Representante da República, como acontecia até aqui. São todos temas controversos que a Região sentiu necessidade de clarificar após 32 anos de Autonomia e de um relacionamento - por causa de todas estas questões - nem sempre pacífico com Lisboa.
No que se refere aos princípios do Adquirido Autonómico e da preferência do Direito Regional, os postulados do EPAA têm provocado "nervosismo" entre as hostes partidárias mais centralistas em Lisboa. O maior receio de uma eventual descaracterização do estatuto surge quando o documento tiver de baixar à Comissão de Assuntos Constitucionais.
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