Com as eleições indianas à porta, ecologistas e políticos do pequeno Estado indiano de Goa (ocidente) batalham pela legalização da "luta de touros", um tradicional espectáculo taurino proibido mas com muitos aficionados na antiga colónia portuguesa.
"Já iniciei os trâmites no Parlamento para legalizá-lo de novo. E, se ganhar nas eleições, continuarei com o processo", assegurou por telefone o deputado cessante de Goa-Sul, Francisco Sardinha, do Partido do Congresso (no poder).
A versão da corrida em Goa, chamada "dhirio", é um combate entre touros, que desperta paixões num amplo sector da sociedade goesa, mas que foi proibido em 1998, por uma lei contra os maus-tratos aos animais. Os organizadores untam o rabo dos touros para garantir a sua agressividade e os animais lutam com os chifres em pontas até que um deles, normalmente ferido, ceda face à investida do adversário.
E agora, a iniciativa de Sardinha para devolver cobertura legal aos combates suscitou a fúria das associações protectoras dos animais, precisamente as que porfiaram junto do Supremo Tribunal para obter a legalização. "Os animais sofrem. Normalmente dão-lhes uma dieta pouco saudável e enchem-nos de álcool, antes do combate. Costumam ficar logo feridos pelas cornadas", assegurou a activista Anuradha Sawhney, da PETA.
Até 1998, quando o Supremo proibiu a prática, o "dhirio" era o passatempo de fim-de-semana para milhares de famílias, que vinham para descontrair e apostar somas de dinheiro a favor do seu touro favorito. A proibição do Tribunal não implicou o desaparecimento das corridas, que continuam a ser organizadas na clandestinidade - há vídeos que o testemunham na Internet - e com apenas meia hora de antecedência para baralhar a Polícia. Para os agentes, mal equipados, é difícil actuar contra dois touros descontrolados e terminar com estes espectáculos, cujos organizadores aparecem e desaparecem, ainda por cima quando a multa prevista é de apenas 50 rupias (1 dólar, 0,79 euros).
"Por Deus!, continua a ser muito popular e é lógico: quando dois búfalos lutam de forma natural, a gente quer vê-los. Se for organizado um combate, o êxito é seguro", defendeu Sardinha, que disse querer manter-se à margem dos encontros clandestinos. "Todos os animais lutam na natureza e o mais forte sobrevive. Proibimos o boxe, o futebol, porque há crueldade? Se a gente toma o leite que a vaca gera para a sua cria, isso é violência?", questionou o deputado.
A PETA e outras associações, como People For Animals (PFA), acham que sim e fizeram chegar uma missiva ao líder do Partido do Congresso, Sónia Gandhi, para travar as intenções do seu deputado Sardinha, que quer fazer reviver esta tradição. "A lei de Sardinha viola a Constituição, que inclui o dever do cidadão de ter compaixão pelas criaturas vivas. E, além disso, as lutas contrariam a Lei de prevenção da Crueldade Animal. É uma posição puramente eleitoralista", denunciou Sawhney.
Goa, una antiga colónia portuguesa com uma forte presença de cristãos, está menos apegada que outras regiões indianas ao carácter sagrado que a vaca tem para os hindus, e os defensores do
"dhirio" argumentam para defendê-lo que a tradição tem "séculos de antiguidade".
A polémica sobre o "dhirio" corre em paralelo à de outras festas taurinas que se realizam na Índia, como o "jallikattu", um festival do sul do país durante o qual os aficionados têm de agarrar com as mãos um touro em pontas.
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