No espaço dum ano, a guerrilha tâmil viu reduzida a sua influência a uma área de menos de dois quilómetros quadrados e deixou de existir militarmente. O responsável por esta proeza é o general Sarath Fonseka.^
No dia em que foram mostradas fotos do fundador e líder dos Tigres de Libertação do Eelam Tâmil (TLET), Velupillai Prabhakaran, morto no último reduto da guerrilha, o comandante do exército do Sri Lanka, general Fonseka, era um homem satisfeito. Ele próprio o disse em termos claros: "Estou muito contente por confirmar que matámos Prabhakaran, esse brutal dirigente terrorista."
Além do dever de derrotar militarmente os TLET, Fonseka, cujo patronímico assinala a presença portuguesa no antigo Ceilão conseguiu vencer aqueles que o tentaram matar num atentado à bomba em Abril de 2006. A guerrilha estava consciente do que representava a escolha para a chefia do exército deste nacionalista cingalês - que não teme revelar as suas opiniões sobre a maioria e as minorias no país, entre as quais os tâmiles. A estratégia do Presidente Mahinda Rajapakse de eliminar os TLET tinha encontrado o executor perfeito.
Um executor que já provara as suas qualidades em diversas operações em que os tâmiles foram derrotados, desde os anos 90. Após 14 anos de combates com os TLET, Fonseka conhecia-os quase tão bem como Prabhakaran os conhecia.
Fonseka aumentou a despesa com a defesa, que cresceu quase 50%, encetou uma campanha de aquisições de armamento e delineou uma estratégia simples: forçou a guerrilha a um confronto convencional que esta nunca poderia ganhar.
Talvez por isso, em 2008, Fonseka autopropôs-se para a mais alta condecoração militar do país - que lhe foi concedida.O seu nível de auto-estima pode medir-se pela declaração pouco elegante que fez sobre o comandante Karuna (que desertou da guerrilha em 2004, enfraquecendo-a significativamente), considerando uma "vergonha" pensar que a "deserção de um guerrilheiro tâmil influencia o resultado da guerra".
Uma guerra que ficou ontem provado ter terminado com a morte de Prabhakaran, que tentou a fuga na passada segunda-feira das últimas posições da guerrilha, segundo a versão oficial.
A preocupação das autoridades cingalesas em mostrarem o rosto barbeado de Prabhakaran (quando corriam rumores de que deixara crescer barba) explica como era importante demonstrar que alcançara a vitória sobre uma guerrilha outrora temível. No seu apogeu, os TLET controlaram um terço do Sri Lanka, assassinaram vários governantes cingaleses e mobilizaram milhares de seguidores. Nos dias que antecederam a morte de Prabhakaran e da maioria da direcção da guerrilha, não controlavam mais de dois quilómetros quadrados de terreno.
[>Em 9 de Julho de 2008, o Tasquinha noticiou que o General Sarath Fonseka anunciara o isolamento do Tigres Tâmil. O nome Fonseka tem origem no vocábulo português Fonseca, que por sua vez deriva dum nome sefardita. Existia uma importante comunidade de sefarditas em Portugal no momento em que se inicia a expansão em África e na Ásia. No século XVI, à medida que se afirma a presença português na então ilha de Ceilão, muitos membros de clãs aderem ao cristianismo e são baptizados, adoptando os nomes dos seus "padrinhos" portugueses. Daí a profusão de Andrades, Pereira, Fernandes, Fonsekas e Pinto como patronímicos. Estes nomes sofreram alterações à medida que novas influências coloniais ( holandesa ou a britânica) se afirmaram.]
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