Presidente timorense mandou libertar autores do atentado que sofreu em 2008. A decisão vai aumentar a estabilidade no país e ajudar "o passado a ser passado".
"Eles também foram vítimas", justificou José Ramos Horta (JRH). Os 23 antigos rebeldes considerados responsáveis pelo atentado contra o presidente da República de Timor-Leste e condenados em Março a 16 anos de prisão vão ser libertados mais cedo que o previsto, segundo a informação publicada ontem na Gazeta Oficial, o boletim legislativo de Timor.
A intenção de JRH já tinha sido dada a conhecer a 6 de Agosto, em Díli. "Como presidente da República quero indultar as pessoas já condenadas em processos relacionados com a crise, concretamente os três militares das F-FDTL (Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste), Gastão Salsinha (tido como um dos cabecilhas, a par de Alfredo Reinado, que foi abatido na sua residência), e os outros condenados no mesmo processo. A compensação às vítimas (da crise de 2006) e os indultos vão ajudar-nos a deixar o passado ser passado e a olhar o futuro com confiança", disse o presidente da República.
Paulo Gorjão, especialista do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS), considera que a decisão é um sinal claro de que Ramos Horta quer "desvalorizar, despolitizar e normalizar uma situação que poderia aumentar as fragilidades do país, aumentando a tensão social".
O especialista defende que a decisão do presidente timorense está relacionada com a tensão social do país. "À medida que cresce o distanciamento em relação ao referendo de 1999 que as tensões tendem a perder impacto. Mas a vida e a história fazem com que seja possível, apesar de imprevisível, haver uma nova tentativa de golpe de Estado como o de 2001, ou nova tentativa de assassinato do presidente JRH", defende o especialista.
A libertação dos condenados pelo atentado não é mais que "uma tentativa de retirar a carga de tensão política que se mantém em Timor desde 1999", considera Gorjão. Assim, "o que JRH faz é tentar esvaziar um balão de tensão. A realidade de Timor nem sempre corresponde às expectativas traçadas na transição para a democracia", defende, explicando que "a situação em Timor é relativamente calma, não há sinais de tensão política nem social, mas o facto de não haver sinais de tensão não quer dizer que ela não exista".
Dois dos condenados libertados são Gastão Salsinha e Marcelo Caetano. Maternus Bere, outro dos envolvidos no ataque que feriu o presidente timorense e levou à morte do major Alfredo Reinaldo, foi posto em liberdade em 2009. Bere era um antigo chefe de milícias pró-indonésias que fora considerado, por uma unidade da ONU, culpado pela chacina de centenas de pessoas numa igreja em Suai, em 1999.
O julgamento dos 23 envolvidos na tentativa de assassinato ao presidente JRH terminou em Março e durou cinco meses. JRH ficou ferido, depois de ter sido alvejado no estômago no atentado de 10 de Fevereiro de 2008. No mesmo dia, também o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, foi alvo de um ataque, do qual saiu ileso. Os ataques aconteceram alguns dias depois de Gusmão ter assumido que Alfredo Reinaldo não seria "uma ameaça real à estabilidade" de Timor-Leste.
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