Durante 40 anos, os dois países disputaram a propriedade sobre as águas do mar de Barents e do oceano Árctico. Aquilo que está em causa é a exploração de um quarto das reservas mundiais de gás e petróleo.
Crude dividia os dois países
Rússia e Noruega chegaram a acordo na forma como se procederá à divisão das águas do mar de Barents e do oceano Árctico. O degelo que afecta o círculo polar árctico está a deixar a descoberto enormes reservas de gás e petróleo e a acender a cobiça dos dois países sobre uma região que se crê possa conter um quarto das reservas mundiais.
O espaço marítimo que, há cerca de quatro décadas, Noruega e Rússia disputavam, cobre uma área total de 175.000 quilómetros quadrados. Estima-se que a plataforma continental do mar de Barents contenha mais de 7 mil milhões de toneladas de combustível convencional e que são passíveis de ser extraídas 20 milhões de toneladas de hidrocarbonetos por ano. Um estudo do serviço geológico do governo dos EUA classificou, em 2005, a região como a segunda do mundo com maiores depósitos ainda ocultos.
Aquilo que separava as duas nações era a forma como se procederia à divisão do espaço.
Os russos pretendiam fazer uma repartição “por sectores”, ao passo que os escandinavos defendiam uma solução que, tão simplesmente, consistia no traçar de uma linha que dividisse as águas em dois. A solução encontrada – acordada em Abril, por ocasião de uma visita do presidente Medvedev a Oslo, e oficializada anteontem com a assinatura do acordo no porto russo de Múrmansk – prevê a divisão das águas em “duas partes equivalentes”. Mas aquilo que é verdadeiramente importante e que dividia os dois países até aqui é a solução encontrada para os depósitos que estejam na fronteira e, como tal, sejam de propriedade incerta.
Segundo o tratado de limitação de espaços marítimos e de colaboração celebrado entre as partes, “todos os depósitos que cruzem a linha de demarcação só poderão ser explorados conjuntamente e como um todo”, explicou um representante do governo russo, em declarações ao diário espanhol El País. Assim, evita-se que a exploração dos depósitos seja congelada por disputas territoriais.
Com o acordo, as duas nações ficam numa posição de inter-dependência, uma vez que os peritos defendem que as maiores reservas de gás e petróleo estão localizadas no lado russo, mas estes não têm a capacidade para extrair a matéria-prima em águas tão profundas.
Para o fazerem, as petrolíferas russas necessitam da empresa pública norueguesa Statoil Hydro, cuja experiência adquirida em extracções no círculo polar árctico, fazem dela a única empresa com capacidade para proceder à extracção na zona agora dividida.
O degelo que acelera… a corrida
A corrida que agora chega ao fim – com um empate – só é possível porque o degelo que se observa no Árctico está a deixar a descoberto as reservas, tornando-as exploráveis. No passado dia 10 de Setembro, o gelo árctico alcançou o seu mínimo anual, com 4,76 milhões de quilómetros quadrados, 31% abaixo da média observada entre 1979 e 2000. É o terceiro valor mais baixo desde que, em 1979, começaram a ser feitas as medições por satélite.
A partir de agora, e até à Primavera, o gelo volta a ganhar terreno, mas há cientistas que prevêem que o aquecimento global possa deixar o círculo polar árctico sem gelo no Verão, por volta do ano 2070 – um número que é revisto em baixa com frequência. Os ecologistas são muito críticos perante a exploração do Árctico, uma vez que consideram que um derrame naquela zona teria consequências muito piores do que em qualquer outra parte do mundo. Se no golfo do México a BP levou meses a selar o poço, fazê-lo em águas profundas e geladas, repletas de icebergs, seria muito mais complicado.
A corrida ao Árctico não se resume à Noruega e à Rússia. Também o Canadá reclama a propriedade sobre o cume de Lomonósov – um cume submarino com uma extensão de 1.800 quilómetros que atravessa o oceano Árctico – defendendo que é uma continuação da sua plataforma continental. A Rússia tem um entendimento semelhante, mas relativamente à sua plataforma continental.
Disputas à parte, a Rússia parece ter assumido a dianteira na corrida à ampliação das plataformas continentais das vastas zonas do Árctico. Além de ter apresentado à ONU os documentos necessários para obter o reconhecimento dos territórios que pretende, aprovou no ano passado uma estratégia a aplicar à zona pelo menos até 2020.
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