por Eurico de Barros
O herói da vinda a Portugal das Tapeçarias de Pastrana, em exposição no Museu de Arte Antiga até dia 12 de Setembro, é a Fundação Carlos de Amberes, à qual se deve o restauro destas quatro extraordinárias peças do século XV que documentam e celebram a conquista de Arzila e a tomada de Tânger por D. Afonso V.
O vilão é a diocese de Sigüenza-Guadalajara, em Espanha, em cuja Colegiada de Pastrana se encontram, há séculos, as tapeçarias (que deixaram Portugal em circunstâncias mal definidas, existindo várias teses sobre a sua saída), e que estavam em grave estado de degradação. Mesmo assim, o catálogo da exposição, A Invenção da Glória - D. Afonso V e as Tapeçarias de Pastrana, inclui um texto sorna do bispo de Sigüenza-Guada-lajara, onde este fala do "grande esforço" que os "padres da paróquia" e a "comunidade paroquial de Pastrana" têm feito "para preservar estas tapeçarias e mostrá-las ao público". Um belíssimo esforço, exemplificado pelos "buracos de vários tamanhos, alguns entre 10 e 20 cm2" que os responsáveis pelo restauro foram encontrar nas tapeçarias (ver o esclarecedor artigo de Yvan Maes De Wit no referido catálogo).
Quaisquer que tenham sido as razões que levaram as Tapeçarias de Pastrana a sair de Portugal e a ficar em Espanha todo este tempo, a verdade é que elas são um tesouro nacional, uma peça artística e patrimonial ímpar, e ilustram factos e feitos de uma época áurea da nossa história. Deviam, por isso, ficar permanentemente em Portugal, para serem apreciadas pelos portugueses e por quem nos visita. Convinha era haver "vontade política" do Ministério da Cultura e do Governo. Mas será que a têm?
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