A Petrobras abandonou as negociações para entrar na Galp.
Se não voltar, acabou o "Plano A" do Estado e de Amorim para a mais valiosa empresa portuguesa. O "Plano B" já não é deles. É da Sonangol. Desta vez já não há "golden share". Está na altura de Sócrates fazer outra chamada para o Brasil: "Alô Dilma? Preciso que me quebre um galho". Arrisca-se a ouvir: "Outra vez, José?".
Lembramo-nos suficientemente bem do vertiginoso negócio entre a PT e a Telefónica para excluirmos um "volte face". Até porque, na Galp, a imprensa tem difundido demasiada histeria não confirmada, com mais de recado que de recato, ante uma passividade rara da CMVM. Mas mesmo com esses cuidados, as evidências mostram que os dias estão a correr bem à Sonangol e a Isabel dos Santos. E mal a José Sócrates e Américo Amorim, que hoje controlam a Galp - mas amanhã talvez não.
É isso que está em causa: o poder da Galp. Não um CEO, não o chefe, mas o patrão. Até aqui, o poder estava nas mãos de Américo Amorim, com o Estado, e em relações cordatas com os pacientes italianos da Eni, que mesmo sendo os maiores accionistas sempre foram destratados.
A Sonangol e Isabel dos Santos, fartos de estarem "domesticados" na Amorim Energia, querem ter poder directo na empresa. O "Plano A" manteria este delicado equilíbrio. O "Plano B" pode invertê-lo.
A Petrobras sempre esteve nesta negociação mais por amor que por interesse. Muitos analistas criticavam o investimento na Galp e parte da Gestão não conseguia explicar porque havia de comprar um activo de que metade do valor está já nos blocos de pré-sal que a própria Petrobras controla. Dilma, que antes de ser a Presidenta foi a poderosa ministra dos petróleos, pareceria favorável. Mas não perderá muitos segundos nisso face às horas que dedicará à extracção do fabuloso e novo petróleo no Brasil, que vai enriquecer o País hoje e suportar objectivos sociais amanhã, através de um Fundo Social específico de poupança: "Recusaremos o gasto efémero que deixa para as futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança", disse Dilma na tomada de posse.
A negociação era entre a Eni e a Petrobras, mas na prática estava a ser teleguiada pelo Estado e Amorim, que assim fracassam. E fracassam porque não souberam resolver o "affair" Sonangol e Isabel dos Santos: não podiam dizer que não, pois a importância de Angola é demasiado grande para que o Estado Português o possa hostilizar; e não souberam dizer que sim, deixando arrastar a indefinição durante meses e meses até que a janela Petrobras se fechou. Desta vez, os angolanos não foram levados na conversa que os fez entrar na Amorim Energia sem um contrato parassocial; desta vez, negoceiam com mestria.
Agora é preciso fazer a pergunta: quem se incomoda se a Sonangol mandar na Galp? Se tal acontecer, será o primeiro grande projecto português onde os angolanos passarão efectivamente a ter poder executivo, a que se seguirão outros, como o BCP, talvez o BPI, a Zon e outros, muitos investimentos dos quais foram financiados por bancos portugueses e com o apoio da Caixa.
O que é curioso é que, de todos os investimentos, o único onde os angolanos estão a ganhar dinheiro é na Galp, que é a principal prejudicada por esta indefinição accionista. Trata-se de uma empresa valiosa, acarinhada nas Bolsas, com resultados, mas com um plano de investimentos pela frente gigantesco e que exige capital. É isso que falta em Portugal: capitalistas com capital. O Governo que abre as portas ao investimento não pode fechá-las ao poder. Venham de lá os angolanos. António Vitorino, que lidera (mais) estas negociações em representação do Estado, poderá repetir uma frase que lhe ficou célebre: "Habituem-se!"
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