Camilo Lourenço
Jornal de Negócios
Há um ano, quando a crise a Grécia foi ao tapete, jurámos ao mundo que éramos diferentes.
Argumento: a Grécia tinha um grave problema de credibilidade devido à manipulação de estatísticas.
O tempo está a mostrar que não somos assim tão diferentes: o défice de 2009, que era para ser de 5,9%, passou para 9,3%; a despesa de 2010, que nos prometeram controlada, acabou em derrapagem; as contas da Saúde foram outro buraco; o défice de 2010 só ficou abaixo de 7,3% com a "ajuda" da PT; agora soubemos que o Estado vendeu, a uma empresa sua, imóveis que renderam 300 milhões de euros (naturalmente abatidos ao défice orçamental).
Está por saber se o episódio dos imóveis não foi um dos últimos pregos no nosso caixão. Porque as desculpas do Governo (os imóveis devem ser geridos por uma empresa especializada), não conseguem esconder o óbvio: também fazemos contabilidade criativa, a roçar a trapaça. Não tão grosseira como a dos gregos, mas suficiente para rebentar com a nossa (escassa) credibilidade. Veja-se como o discurso dos amigos (Jean Claude-Trichet, Wolfgang Schauble e até Durão Barroso) mudou nos últimos dias: passou de um categórico "Portugal não precisa de ajuda", para um vago "Estamos disponíveis para ajudar". Até Espanha (com classe) se demarcou de nós…
É neste contexto que deve ser lido o "leak" ao Expresso, sobre a redução do défice orçamental (58%) em Janeiro. "Leak" onde faltam os números da despesa... Se calhar é porque não dão jeito: os défices em Portugal reduzem-se com impostos (não foi Sócrates que qualificou a receita de Janeiro de "positiva e encorajadora"?).
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