Se pensavam que o Algarve já não podia ficar mais inglês, enganaram-se.
O ministro da Economia, Manuel Pinho, anunciou que, para efeitos de coisas extremamente aborrecidas, que envolvem infraestruturas do sector da hotelaria, juntas metropolitanas e todo um vasto leque de estupendas iniciativas, criou uma marca, que por sua vez dá o nome a um programa de eventos, chamada Allgarve. A idéia é tornar o Algarve mais apetitoso e popular em toda a parte, designadamente naquele sítio mítico conhecido como "o estrangeiro". Para isso, juntou uma letra ao nome, com o objectivo de o tornar mais modernaço. Se pensavam que o Algarve já não podia ficar mais inglês, enganaram-se. Aliás, o mais estranho na nova palavra Allgarve é, sem dúvida, o "garve". Sente-se que aquele resquício de portugalidade raçada de árabe está a impedir o Allgarve de voar mais alto.
Não me interpretem mal: estou longe de ser um crítico da medida doministro Manuel Pinho. Todos os autarcas que se pronunciaram sobre o assunto estão contra, o que significa que esta idéia do Allgarve também deve ter as suas qualidades. Tendo isto presente, talvez seja bom que a iniciativa não fique por aqui. Porquê privilegiar o Algarve em detrimento de outras províncias? Por mim, o Minho poderia passar a ser Miño, a ver se enganamos os espanhóis. Se eles pensarem que aquilo faz parte da Galiza,talvez se desenvolva como o resto da Espanha. Era giro continuarmos na cauda da Europa, mas Paredes de Coura passar a estar taco a taco com Zurique. Até porque a minha mãe nasceu lá. Em Paredes de Coura, não em Zurique.
Creio mesmo que Portugal inteiro pode mudar de nome opara se tornar mais apelativo lá fora. Proponho a nova designação "Poortugal", cujo prefixo pode dar a entender aos turistas estrangeiros que o custo de vida cá é barato, e que fazem umas férias bem boas com meia dúzia de tostões.
Quanto ao Allgarve, penso que esta alteração de sabor anglo-saxónico pode ser um meio bastante eficaz para atrair os turistas ingleses, sempre tão relutantes em vir para o Algarve. É isto que um bom governo faz: identifica um problema e faz por resolvê-lo.
Também não quero que pensem que considero a designação Allgarve isenta de reparos. Podia ter-se apostado noutro modelo, baseado menos na adição de letras do que na subtracção. Por exemplo, procurando captar o espírito que preside à política de construção civil na Quarteira, poderia ter-seretirado o "g" e transformado o Algarve no Alarve. É só uma idéia.
Seja como for, quer se tenha apreço quer repugnância pela idéia de Manuel Pinho, é preciso reconhecer que o ministro da Economia é o membro mais cosmopolita deste executivo. Tanto a inventar anglicismos como a cometer, a um ritmo quase diário, embaraçosas gaffes. Gaffe que, como sabem, é uma prática que o ministro importou do francês.
in "A Boca do Inferno"
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