O ex-presidente da República Mário Soares quis adiar para depois de 1999 a entrega de Macau à China, quando os chineses pensavam que a questão estava ultrapassada, disse ontem Zhou Nan.
Zhou Nan, então vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês com a tutela das negociações de Macau, lembrou ontem à agência Lusa em Pequim como, numa "dramática" reunião com Mário Soares, a história das boas relações entre Lisboa e Pequim poderia tomar outro rumo.
Zhou referia-se a um encontro com o então presidente português, em 1986, em Lisboa, durante o processo negocial que precedeu a assinatura da Declaração Conjunta Luso-Chinesa que fixou a data de 20 de Dezembro de 1999 para a reversão do território."Tivemos um almoço muito agradável [com Cavaco Silva, então primeiro-ministro] e uma conversa também muito agradável, e tudo corria suavemente. Na tarde do mesmo dia tinha ficado acordado que deveria fazer uma pequena visita ao presidente Mário Soares. Foi uma visita dramática", considerou."
O presidente não convidou nenhum responsável da parte portuguesa para estar presente e, do nosso lado, eu só tinha o intérprete de português para chinês. Só nós os três." Zhou Nan lembra-se de ter falado primeiro, de ter agradecido a Soares tê-lo recebido e de lhe ter dito que os dois lados tinham chegado a acordo sobre os temas mais importantes, e que "faltava só preparar a primeira versão dos Documentos da Declaração Conjunta"."E de repente ele disse-me: 'Nós não concordamos com a devolução de Macau à China durante este século. Terá de ser adiada até ao próximo século", contou o ex-vice- ministro chinês, que disse ter ficado "muito surpreendido, é claro"."Se o líder da delegação portuguesa disse que concordava", disse Mário Soares, segundo Zhou Nan, "então a posição dele não representa a posição oficial de Portugal". De acordo com Zhou, a reunião terminou sem resultados positivos.
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