Os professores de Português nos Estados Unidos (EUA) acusaram o Governo de Lisboa de não investir no ensino da Língua Portuguesa naquele país, durante o XVI Encontro de Professores de Português dos Estados Unidos e Canadá, na semana passada na Horta, Faial.
Lúcia Lopes, professora na escola Luís de Camões, em Newark, Nova Jérsia, disse que, nos últimos anos, Portugal não gastou "um único dólar" no ensino directo do Português nas escolas comunitárias, deixando toda a responsabilidade nas mãos das associações. "Não colocam professores, não pagam aos que cá estão, não apoiam com materiais escolares, nem formação, nem qualquer outra coisa", disse a docente. Segundo Raul Rodrigues, da escola secundária norte-americana Durffe High School, de Fall River, estado de Massachusetts, o "Estado português prefere investir milhares de dólares e apoiar leitorados de Português em universidades onde estudam meia dúzia de alunos estrangeiros". "A minha escola (Durffe HS) precisa de professores de Português, mas não os encontra porque eles não se formam nas universidades norte-americanas", sublinhou o professor. "No entanto, o Estado português continua a investir milhares de dólares em Centros de Português em universidades norte-americanas não se sabe bem para quê", acrescentou.
Durante a reunião na Horta, que reuniu 120 professores, ouviram-se muitas queixas de docentes que lutam "com falta de tudo e de mais alguma coisa" para ensinaram Português aos luso-descendentes, reclamando apoio de Portugal. Lamentam ainda o facto do secretário de Estado da Educação, Jorge Pedreira, presente no encontro, lhes ter levado uma mensagem que é mais de "desilusão" do que de "esperança". "De um momento para o outro, a nova legislação do Ensino do Português no Estrangeiro ignora totalmente as escolas comunitárias, a comunidade e o trabalho aqui desenvolvido ao longo dos anos, optando por criar uma certificação que é uma espécie de exame da escola virtual que todos sabem e que ninguém se vai dar ao trabalho de fazer", frisou um dos docentes.
Lúcia Lopes, por seu lado, referiu que a nova legislação esvaziou estas escolas e estes cursos de qualquer valor junto das comunidades, ao retirar-lhes os professores que aqui se encontravam destacados, agora obrigados a optar entre os EUA, sem vínculo à Função Pública, e as escolas a que pertencem em Portugal.
Nos EUA existem cerca de 50 escolas comunitárias pertencentes a associações, igrejas e comissões de pais, onde é ensinada a Língua Portuguesa aos filhos dos emigrantes. O ensino do Português como língua estrangeira existe apenas em meia dúzia de escolas norte-americanas nos estados da Califórnia, Massachusetts e Nova Jérsia. Os professores que participaram no XVI Encontro manifestaram-se ainda pessimistas em relação ao futuro deste ensino com a passagem da sua tutela para o Instituto Camões, que dizem estar mais vocacionado para o ensino universitário. A Associação de Professores de Português dos EUA e Canadá, responsável pela organização do Encontro, pediu, nas conclusões, um compromisso explícito do governo português nesta questão, concluindo que "há a necessidade de implementar uma estratégia comum" para os EUA e Canadá, "que inclua todos os níveis de ensino, desde o integrado às escolas comunitárias e universidades, através de coordenadores que conheçam a realidade específica deste espaço da diáspora portuguesa".
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