quarta-feira, julho 22, 2009

Ministro espanhol visitou pela primeira vez em 300 anos Gibraltar e reclamou a soberania

A oposição não achou bem que o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, Miguel Ángel Moratinos tivesse ido a uma terra que os britânicos ocuparam em 1704 e onde actualmente vivem 28.750 pessoas.

Moratinos, esteve ontem em Gibraltar. É o primeiro membro de um Governo de Madrid que aí se desloca desde que há 305 anos o pequeno território do Sul da Península Ibérica foi ocupado pela Inglaterra. "A posição de Espanha é não renunciar à recuperação da soberania sobre Gibraltar. Mas viemos aqui para dialogar, porque não há outra opção para além da cooperação e do diálogo", disse. Moratinos foi reunir-se com o seu homólogo britânico, David Miliband, e com o ministro principal de Gibraltar, Peter Caruana, para prosseguir conversações que em 2006 decorreram na cidade andaluza de Córdova e o ano passado em Londres. Mas o Partido Popular (PP, na oposição) achou muito mal que um ministro se tivesse prestado a ir a um território que a Espanha considera indevidamente ocupado, apesar de, pelo Tratado de Utreque, de 1713, o ter cedido à Coroa britânica.

Em Gibraltar a visita foi bem recebida: foi "um gesto político importante, que agradecemos", disse Caruana ao jornal El País, considerando-a "uma aposta na cooperação". Recentemente tinham surgido novas dificuldades, depois de Espanha ter incluído numa lista europeia de habitats naturais as águas que rodeiam a cidade e o porto de Gibraltar. Segundo o Tratado de Utreque, os espanhóis só cederam aos britânicos a cidade e o castelo de Gibraltar, bem como o respectivo porto, mas não o istmo que conduz ao território, nem as águas em redor. Moratinos foi acompanhado pelo secretário de Estado dos Assuntos Exteriores, Ángel Losada, e seguiu depois para Jerez de La Frontera, para novas conversações com Miliband, já à margem da questão de Gibraltar. A secretária-geral do PP, María Dolores de Cospedal, considerou a deslocação um "terrível erro", por poder ser interpretada como um "perigoso" precedente de se entender Gibraltar como país soberano, quando na verdade a Espanha gostaria de recuperar esses 6,8 quilómetros quadrados.

A ilha de Menorca, nas Baleares, também foi cedida em Utreque à Grã-Bretanha, mas a Espanha conseguiu reavê-la pelo Tratado de Amiens, em 1802, depois de uma série de incidentes que envolveram tropas inglesas e espanholas e também francesas. A devolução de Gibraltar tem sido desde há muito um objectivo da política externa espanhola. Em Abril de 1980, o Acordo de Lisboa estabeleceu o quadro para o assunto ir sendo paulatinamente negociado, ao longo dos anos. Entretanto, do mesmo modo que a Espanha desejaria reaver o território gibraltino, Rabat afirma que os enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla fazem parte integrante do Reino de Marrocos, devendo ser abandonados por Madrid.

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