terça-feira, fevereiro 12, 2008

Cinzas e nevoeiro na política timorense

No auge da crise político-militar de meados de 2006, Xanana Gusmão sai do seu Palácio das Cinzas e dirige-se à multidão exultante, concentrada na praça central de Díli: "Ganhámos porque fomos mais espertos!" O que tinham ganho era a demissão de Mari Alkatiri da chefia do Governo. A quem Xanana erguia o braço triunfante era o tenente peticionário Gastão Salsinha. O mesmo que, agora, o tentou matar.

O outro fugitivo, Alfredo Reinado, celebridade internacional via media australianos, andava há mais de um ano a ser protegido pelo actual Presidente da República, José Ramos-Horta, da execução de uma ordem de captura emitida pelo tribunal de Díli. Inúmeras foram as diligências de mediação para convencer Reinado e as duas dezenas dos seus irredutíveis armados a entregaram-se à Justiça pelos crimes de Maio de 2006 de que vêm acusados. Tudo em vão. E é o próprio Reinado quem conduz o comando de ataque a Ramos-Horta.

Os operacionais do golpe-por-etapas-em-câmara-lenta, iniciado em Abril de 2006, viraram-se, agora, contra os líderes políticos, que lhes deram cobertura política. Porquê? Ou se trata de tresloucados com delírios de poder ou se adensa o nevoeiro de uma luta política opaca, que substitui a luta democrática nas urnas, pela conspiração golpista, nostálgica das figuras míticas dos guerrilheiros do passado. A resultante conduz sempre ao mesmo: declarar Timor-Leste um Estado falhado, incapaz de se autodeterminar, dependente de um protector amigo...

Por António Perez Metelo in DN

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