As grandes cimeiras internacionais, como a ibero-americana, que se realiza a partir de domingo no Estoril, mais do que para tomar grandes decisões, estão vocacionadas para permitir os chamados "encontros à margem" entre os líderes presentes. E é desses encontros ocasionais que saem na maioria das vezes acordos decisivos para a cooperação entre nações, quer a nível político quer económico e social.
A XIX cimeira ibero-americana surge assim como uma oportunidade falhada para ajudar a resolver alguns dos grandes problemas sul-americanos da actualidade. As ausências de peso dos principais representantes da Venezuela (Hugo Chávez), da Colômbia (Álvaro Uribe) e de Cuba (Raúl Castro) impedem que no encontro de líderes do Estoril se medeiem os grandes conflitos latentes, com o venezuelo-colombiano à cabeça.
A América do Sul e a América Latina passaram de forma leve pela actual grave crise económica mundial, graças, por um lado, à solidez dos seus bancos e, por outro, às relações comerciais com os países asiáticos. Além desta realidade, que lhes permitirá crescer, em média, no próximo ano, entre 3 e 3,5%, o continente conta também com um importante farol, o Brasil: com o carisma de Lula da Silva, hoje um dos grandes líderes mundiais, os brasileiros conseguiram um desenvolvimento ímpar que arrasta consigo todos os países vizinhos.
Portanto, só os conflitos entravam um maior desenvolvimento sul-americano. A cimeira em Portugal poderia ajudar a ultrapassá-los. Mas, sem esses líderes no Estoril, ficar-se-á apenas por declarações de boas intenções. Claro que surgirão alguns acordos de cooperação importantes. Mas nenhum deles de relevância global.
Uma cimeira decisiva?
Manaus, Port of Spain, Washington, Pequim: o caminho para Copenhaga, com a sua cimeira mundial das mudanças climáticas, dá a volta ao mundo. Compromissos concretos de cortes nas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) surgem de todos os azimutes e de onde eram mais precisos: as duas maiores potências, responsáveis por metade dos GEE lançados à atmosfera - China e EUA - entraram, finalmente, em cena com o propósito de contribuir para a resolução que ameaça o futuro das próximas gerações. É, porventura, apenas um começo. Os mais críticos acharão mesmo que reduzir 17% até 2020 as emissões de CO2 - como pretendem os EUA - não é suficiente. Mas é precioso para quem se pôs de fora do Protocolo de Quioto . E esse compromisso norte-americano vai-se reforçando para cortes de 30%, em 2025, e 42%, em 2050. E teve já a virtude de induzir uma meta por parte da China. Espera-se, em breve, o plano da Índia.
Esse combate global é de uma complexidade e diversidade sem precedentes: a desflorestação da Amazónia tem de ser reduzida, os países em desenvolvimento precisam de muito capital e de transferência de tecnologias limpas para proceder às transformações inadiáveis dos seus aparelhos produtivos, poluidores e ineficientes. As economias desenvolvidas vão ter mesmo de chamar a si a liderança mundial de mudanças de fundo com a inevitável emergência de um novo paradigma energético. E o que se decidir em Dezembro em Copenhaga terá consequências muito precisas na vida dos nossos netos.
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