Em Almancil, onde reside Elisabeta Necker, vivem 600 romenos. A contabilista fundou uma associação para que as crianças possam aprender o que é a Roménia.
No Verão passado, Elisabeta, 32 anos, romena, foi passar férias a Timisoara, a sua cidade natal. No regresso descobriu aquilo de que já desconfiava: "Quando voltei para Almancil, senti-me em casa", confessou ao PÚBLICO. Almancil, no Algarve, foi o local onde "aterrou" em 2000 para experimentar o mesmo que muitos outros imigrantes - um trabalho abaixo das suas qualificações. Ontem, Dia Internacional dos Migrantes, foi distinguida, na Fundação Gulbenkian, com o Prémio Empreendedor Imigrante do Ano, promovido pela Plataforma Imigração.
Em sete anos, a vida de Elisabeta deu uma volta, mas a profissão para a qual inicialmente se preparou parece ter ficado irremediavelmente para trás. Licenciou-se em Engenharia Electrotécnica no mesmo ano em que casou, 1999. Era uma jovem mulher com "um curso masculino" e sem perspectivas de emprego na Roménia: "Decidi tentar a sorte noutro sítio".
Escolheu Portugal, mais concretamente Almancil, porque tinha ali um conhecido do pai. Veio com o marido, tentou obter equivalência ao seu curso na Universidade do Algarve. Não conseguiu devido a "incompatibilidades entre algumas cadeiras", segundo lhe disseram. Um mês depois de chegar estava a trabalhar nas obras como empregada de limpeza e "às vezes servente". Na empresa existiam outras duas imigrantes, uma moldava e uma ucraniana. Com a primeira falava romeno, com a segunda apenas comunicava por gestos. Hoje falam entre ambas em português, uma língua que aprenderam juntas, em cursos nocturnos providenciados na delegação do Instituto do Emprego. Há cinco anos deu à luz Diana, uma menina loura, e ficou sem trabalho. O aldeamento turístico onde era empregada de limpeza não lhe renovou o contrato. Foi então que descobriu a contabilidade. Hoje é assistente administrativa de contabilidade numa empresa de residências de luxo. Está efectiva desde Setembro de 2003. A mudança de vida pode também ser medida pela nacionalidade dos estrangeiros que, como ela, têm assento na empresa. Uma é australiana, a outra inglesa. Em Almancil, residem cerca de 600 romenos. O que os atrai? "Vale do Lobo e a Quinta do Lago estão ali, é uma zona que dá trabalho", resume Elisabeta, que no início deste ano fundou uma associação de apoio aos seus conterrâneos. Foi esta iniciativa que ajudou à sua selecção como vencedora do prémio que ontem lhe foi entregue pelo ex-comissário europeu António Vitorino. Com esta associação transformou-se também em professora de Romeno, na escola de domingo, a iniciativa principal da organização. Objectivo: estabelecer uma ponte entre o país de origem e as crianças que já nasceram por cá, como a sua filha Diana, com quem fala ora em romeno, ora em português, ora numa mistura das duas línguas. Elisabeta, escolhida como um "exemplo de integração pró-activa", foi um dos 10 estrangeiros que concorreram ao prémio Empreendedor Imigrante, no valor de 20 mil euros. Uma parte deste montante será despendido numa viagem à neve, talvez à Alemanha, onde reside parte da família do marido, que continua a trabalhar na construção civil, mas o regresso a Almancil é dado como certo: "Agora digo que fico."
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