O primeiro Presidente eleito democraticamente nas Maldivas, Mohamed Nasheed, inaugurou o seu mandato com uma medida inovadora. O país vai criar um fundo de poupança para comprar novas terras onde a população possa viver, caso o nível das águas acabe por engolir o paradisíaco arquipélago, anunciou ontem Nasheed.
O "seguro de vida" dos maldivanos, como lhe chamou Nasheed, irá ser pago com uma parte das receitas do turismo, a principal fonte de rendimentos do país. Se as previsões mais pessimistas se cumprirem, os 300 mil habitantes poderão ter de abandonar definitivamente o seu território. É que as 1192 ilhas que compõem o arquipélago das Maldivas não estão a mais do que 2,4 metros acima do nível do mar e a maioria do território habitado está apenas a um metro de altitude. A capital, Malé, está a 90 centímetros do nível do mar e, só aqui, vivem 100 mil pessoas.
O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas da ONU estima que o nível das águas suba até 59 centímetros até 2100. Mas outros estudos, como o relatório de 2006 do Instituto de Potsdam para a Investigação do Impacto Climático, apontam para uma subida até 1,40 metros, o que ditaria o fim das Maldivas. A proposta de Nasheed já foi discutida com alguns países, que se mostraram "receptivos", segundo conta o novo Presidente. O Sri Lanka e a Índia são os destinos mais prováveis, devido às semelhanças culturais, mas o Norte da Austrália também é uma possibilidade.
Nasheed explica que ninguém quer deixar as Maldivas, mas que pretende assegurar os direitos das próximas gerações, que poderão não resistir às consequências do aquecimento global.
O problema estende-se a outras 47 ilhas, apelidadas pelas Nações Unidas de SIDS (Small Islands Developping States). Na Papua-Nova Guiné, existe desde 2005 um plano de evacuação para uma ilha vizinha. As ilhas Marshall não têm capacidade financeira para proteger o depósito de lixo nuclear que os Estados Unidos criaram no país e que agora poderá ficar submerso. Na ilha de Bhola, no Bangladesh, 500 mil habitantes deslocaram-se para o interior quando a ilha foi inundada, em 1995, tornando-se talvez os primeiros refugiados ambientais do mundo. Um estatuto que irá proliferar, segundo as previsões.
Ilhas Salomão, Vanuatu, Nova Caledónia ou Fiji são alguns dos territórios ameaçados com a subida das águas. Outro é o Tuvalu, símbolo das vítimas do clima. O pequeno arquipélago de 11 mil habitantes poderá ser o primeiro país a desaparecer do planeta. Periodicamente, marés vivas de cerca de três metros de amplitude submergem parte do território, incluindo a pista do aeroporto. As constantes inundações comprometem também a incipiente agricultura do país, devido à salinização das terras. A falta de água doce, a pesca excessiva e a poluição dos navios são outros problemas que também afectam estas ilhas, para além dos furacões e maremotos. "Nós não precisamos de novas investigações científicas sobre o fenómeno da subida das águas, nós já o vivemos", dizia já em 2005 o primeiro-ministro do Tuvalu, Saufatu Sopo'aga. A Nova Zelândia recebe 17 imigrantes deste país por ano e já se estudam propostas para uma deslocação em massa da população. Os SIDS tentam apelar às nações desenvolvidas para uma redução das emissões de gases de estufa, a única forma de abrandar a subida das águas que é inevitável no futuro próximo. Na quinta-feira, reuniram-se em Singapura, para unificar as posições que tomarão em Dezembro, na cimeira sobre alterações climáticas da Polónia. Pedem que a crise financeira não relegue para segundo plano o futuro destes países, em risco de desaparecer do mapa.
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