A revista "Foreign Policy" escreveu que o antigo primeiro-ministro socialista, desde 2005 alto-comissário da ONU para os Refugiados, está numa short list de quatro nomes a ser considerada pelas Nações Unidas, mas António Guterres diz que não será o representante da organização no Afeganistão.
O representante já foi escolhido e na ONU é tido como certo o nome de Jean-Marie Guehénno. Funcionários da organização afirmam ainda que o francês é o preferido de Richard Holbrooke, o enviado dos EUA para o Afeganistão e o Paquistão. Kai Eide, o actual chefe da ONU em Cabul, sai em Março. De acordo com a "Foreign Policy", Guterres é (ou foi) candidato, a par de Guehénno, ex-chefe da ONU para as missões de paz; Knut Vollebaek, chefe da diplomacia da Noruega; e do eslovaco Jan Koubis, director da Comissão Económica da ONU para a Europa. Guterres admite que o seu nome possa ter integrado alguma lista - houve várias, segundo o jornal "The New York Times", por exemplo, os avaliados incluíam Guehénno e o britânico Ian Martin.
Num editorial do início do mês, o diário defendeu Guehénn, um "independente", capaz de "desafiar" os EUA quando "estiverem errados" e de "fazer frente ao Presidente [Hamid] Karzai quando for necessário". Na nova fase de esforço militar e civil, a ideia é que este enviado desempenhe um papel mais preponderante do que teve Eide, decidindo os destinos do país a par de outros dois enviados civis, um da NATO, outro da UE, e ao lado do general Stanley McChrystal, o norte-americano que lidera a missão da NATO, e do Governo. Eide foi muito criticado pelos EUA, que antes da sua escolha preconizavam um superenviado que combinasse a posição na NATO com o cargo na ONU. O cargo chegou a ser oferecido ao britânico Paddy Ashdown, mas Karzai vetou essa via, que em grande medida o anularia.
O cargo, cujo perfil sempre foi alvo de polémica à medida que as missões dos EUA, da ONU e da NATO foram evoluindo de forma e objectivos, reveste-se de maior importância ainda quando se considera o futuro próximo. Washington vai enviar mais 30 mil soldados, mas Barack Obama quer começar a retirar a meio de 2011. A violência foi maior em 2009 do que em qualquer ano desde 2001. O tempo esgota-se e essa será uma das mensagens que sairá da Conferência Internacional de quinta-feira em Londres. McChrystal defendeu, no "Financial Times", aquilo de que há muito se fala mas nunca foi possível concretizar: o reforço militar terá de abrir caminho a uma paz negociada com os taliban. "Como soldado, a minha impressão é que já houve demasiada guerra", disse. Não é de todo o único, mas um dos obstáculos em que as anteriores tentativas de conversações esbarraram é o facto de muitos dos taliban que deveriam sentar-se à mesa constarem da "lista de terroristas" da ONU. Um passo seria então retirar estes nomes dessa lista e é Eide que o defende."Se queremos resultados relevantes, temos de falar com a pessoa que é relevante, que tem autoridade", disse Eide ao "New York Times". "Isto permitiria aos taliban aparecer em público", explica. Não é certo que nomes seriam retirados, mas ninguém imagina que o objectivo seja negociar com o mullah Omar, ex-líder espiritual do governo taliban em Cabul, que autorizou Osama bin Laden a instalar-se no país.
A estratégia para "reintegrar os taliban na sociedade" será o grande tema da conferência de Londres. Karzai deve anunciar um pacote de incentivos para convencer rebeldes a baixar as armas. Outro tema em debate será a transferência de autoridades para os afegãos. Há uma guerra entretanto e, por isso, também haverá compromissos sobre envio de tropas. Sabe-se que no Afeganistão os combates recomeçam em força na Primavera. Assim será este ano e o chefe do Comando Central dos EUA, David Petraeus, disse ao "The Times" que o reforço militar vai demorar mais a surtir efeito do que o que ele liderou no Iraque, em 2007, avisando que em algumas províncias a violência vai piorar antes de melhorar.
[Já tínhamos aqui sugerido que Guterres podia não ter perfil para "fazer frente ao presidente Karzai quando for necessário"...]
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