António Guterres é um dos quatro nomes apontados para o cargo de representante especial das Nações Unidas (ONU) no Afeganistão. O antigo primeiro-ministro português e actual alto comissário da ONU para os Refugiados - cujo mandato termina já em Junho - goza de prestígio internacional e reúne as condições políticas para ocupar o lugar deixado vago pelo dinamarquês Kai Eide.
A escolha será, porém, da exclusiva responsabilidade de Ban Ki-moon, o secretário-geral das Nações Unidas. "A confirmar-se, é uma excelente oportunidade para ele e para Portugal", diz o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, João Gomes Cravinho. A diplomacia portuguesa desconhece, para já, as movimentações em torno de Guterres avançadas por fontes da ONU à revista americana "Foreign Policy". No entanto, no Alto Comissariado, a possibilidade de Guterres fazer as malas para Cabul não é afastada. A resposta é lacónica: "Não temos comentários a fazer nesta fase", diz Melissa Fleming, do gabinete de comunicação do ACNUR. Na short list de Ban Ki-moon, de acordo com a revista americana, estão ainda o francês Jean-Marie Guehénno, antigo chefe das missões de paz, e Knut Volebaek, ministro dos Negócios Estrangeiros norueguês. Com menores possibilidades, aparece o eslovaco Jan Koubis, director da Comissão Económica da ONU para a Europa. No início de Janeiro, várias notícias deram como certa a oferta do lugar ao veterano diplomata sueco Steffan De Mistura. A escolha foi aplaudida de pé em Washington - "De Mistura tem o apoio unânime do governo americano", diria Richard Holbrooke, o enviado especial dos Estados Unidos para o Afeganistão e Paquistão -, mas, por obrigações familiares, o diplomata que foi enviado especial da ONU no Líbano, na Somália, nos Balcãs, no Nepal e no Iraque, declinou o convite. A nega de De Mistura criou problemas ao secretário-geral da ONU.
A organização prepara-se para assumir maiores responsabilidades no teatro de guerra afegão e Ban Ki-moon confiava na apresentação de um nome forte durante a conferência internacional sobre o Afeganistão, em Londres, que decorre já no próximo dia 28. Para já, continua tudo em aberto. "Esta decisão é tomada pelo secretário-geral. O anúncio do novo representante especial será feito nas próximas semanas", confirma Dan McNorton, porta-voz da missão das Nações Unidas no Afeganistão. António Guterres, que nunca mostrou vontade de regressar à política doméstica, vê abrir-se uma oportunidade num lugar de grande relevo. Ao novo representante especial exige-se envergadura intelectual, prestígio, diplomacia e influência junto da elite militar e política norte-americana - além de estatura política para desafiar o presidente Hamid Karzai quando necessário. [e Guterres tem esse perfil?]
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