São Tomé e Príncipe é, desde dia 1 de Janeiro, o segundo país lusófono a ter a sua moeda em paridade cambial com o euro, passo que promete trazer mais investimento, mas pode também criar dificuldades de adaptação.
Quando ainda se discutia se a melhor opção para indexação monetária ("peg") da dobra seria o euro, o dólar ou mesmo o franco CFA, cinco economistas defenderam num estudo do Fundo Monetário Internacional, em Maio de 2008, a opção pela moeda europeia, dado que é na Zona Euro que estão os mais importantes parceiros comerciais são-tomenses, como Portugal, Espanha e França.
O futuro da dobra são-tomense começou a ser repensado face à escalada do preço de bens importados essenciais, como o arroz e os combustíveis, para a população, devido ao enfraquecimento da moeda em relação às divisas internacionais.
O sucesso da alteração monetária, alertam os autores do estudo, está dependente do reforço da transparência, de disciplina fiscal e gestão prudente da dívida, reformas estruturais para facilitar o investimento privado e aumentar a flexibilidade laboral.
Cabo Verde, que tem em comum com São Tomé o facto de ser uma pequena economia insular e aberta, indexou o seu escudo ao euro em 1999, com o apoio de Portugal.
No início, esta alteração criou dificuldades económicas, mas é hoje vista como um instrumento importante de estabilidade financeira e crescimento económico de que Cabo Verde tem vindo a gozar, que permitiram queo país ascendesse à categoria de país de rendimento médio em 2008.
Na avaliação do economista e gestor Veríssimo Pinto, presidente da Bolsa de Valores de Cabo Verde, a fixação da paridade do escudo cabo-verdiano, primeiro, ao escudo português, e, depois ao euro, veio dar "grande credibilidade económica e financeira" ao arquipélago.
"Sempre que falamos com investidores, para investirem na Bolsa de Valores, por exemplo, a primeira questão que colocam é sobre o risco cambial, quanto recebem, em moeda nacional, os rendimentos que detêm em Cabo Verde", disse.
Desde 2001, o peg foi apoiado por um exaustivo programa de reformas económicas, que diversificou a composição da economia cabo-verdiana e diminuiu a sua vulnerabilidade a choques externos, registando-se paralelamente uma redução da inflação e um aumento das receitas turísticas.
A indexação da dobra resulta de um Acordo de Cooperação Económica (ACE) entre Lisboa e São Tomé, assinado a 28 de Julho deste ano na capital são-tomense, depois de mais um ano de contactos entre os ministérios das finanças e bancos centrais.
No âmbito deste acordo, Portugal colocou à disposição do arquipélago uma linha de crédito de 25 milhões de euros.
O facto de a cotação da moeda são-tomense passar a estar "ancorada" ao euro, tal como acontece na zona do franco CFA (criada em 1945), não significa que esta seja utilizada como moeda oficial. A França dispõe de acordos de paridade negociado com a União Europeia para dois grupos de países africanos: a União Económica e Monetária dos Estados da África Ocidental (Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal e Togo) e a Comunidade Económica e Monetária da África Central (Camarões, República Centro Africana, Chade, Congo, Guiné Equatorial e Gabão).
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