sexta-feira, novembro 16, 2007

NATO poupa dinheiro com solução criada pelos militares portugueses

Os militares portugueses destacados há duas semanas na base aérea lituana de Siauliai encontraram problemas que não existiam para os outros contingentes da NATO ali presentes desde 2004. Um deles diz respeito ao "arrumar" dos dois caças no fim de cada missão: a falta de espaço na placa obriga-os a entrar de marcha-atrás nos hangares, empurrados pelos mecânicos, pelo que os motores têm de ser previamente desligados por questões de segurança. Depois de estacionados, e porque as coordenadas dos sistemas de navegação e tiro dos F-16 têm de estar sempre afinadas (ao milímetro), é necessário religar os aviões - a 500 euros cada - até os computadores dizerem "ok". A solução imaginada permite poupar 1000 euros por cada dia de voo aos países que usam caças F-16 (a maioria dos que ali estiveram) ou Tornado (ingleses): montar uma roldana na traseira dos hangares para que um reboque possa puxar os caças - num ângulo de 90 graus, para não ser sugado - sem que os aviões tenham de desligar os motores. Outro "ovo de Colombo" português surgiu depois de os portugueses olharem com atenção para os hangares instalados pela NATO: os pequenos motores que controlam a sua abertura congelam com o frio - já de alguns graus abaixo de zero na terça e na quarta-feira. Não foi possível saber quanto tempo demoraram a encontrar a solução para o problema, com que um novo destacamento aliado ia lidar - leia-se abrir e fechar os hangares à mão - pelo quarto Inverno consecutivo: colocá-los do lado de dentro.
A Lituânia, como a Estónia e a Letónia, não tem meios capazes de garantir a sua própria defesa aérea, pelo que a NATO assumiu essa responsabilidade junto às fronteiras da Rússia e da Bielorússia. Quando lá chegaram, nos últimos dias de Outubro, os militares da Força Aérea só estavam preocupados em montar as tendas e equipamentos do seu "kit de mobilidade". Mas os lituanos, à cautela, queriam fazer reuniões de trabalho. "Os briefings, os briefings", insistiam os locais, em inglês. Para deixarem de os ter sempre à perna, recordou um dos militares ouvidos pelo DN, os portugueses lá acabaram por interromper os seus trabalhos para ouvir as recomendações dos seus pares."Ainda bem que tivemos aquelas reuniões, porque caso contrário não estaríamos avisados e não teria havido reporte" do que se passou "um ou dois dias depois". Já fora das horas de serviço, contou a fonte, um militar que tomava café depois do jantar num café de Siauliai foi abordado por uma atraente jovem - "mas o contacto estava a ser demasiado fácil", pelo que o português alertou as chefias. Estas, por sua vez, entraram em contacto com a intelligence militar lituana. Com alguma surpresa, viram-nos "[dar] a entender que já sabiam o que se tinha passado", sublinhou aquela fonte, adiantando que os lituanos confirmaram tratar-se de uma das pessoas com quem os aliados devem evitar contactos."Eles são uma máquina infernal [em matéria de intelligence], estão anos-luz à nossa frente", confessou o operacional, com base no que já teve oportunidade de saber sobre o trabalho dos lituanos. As Forças Armadas portuguesas, através da sua componente aérea, formam o 14.º contingente a cumprir missão nos Bálticos. Como "o ócio é a pior coisa" com que os soldados podem lidar, o destacamento assumiu outras tarefas. Assim, no plano militar, está a desenvolver um manual com procedimentos de defesa aérea para a Lituânia: aí se diz como interceptar um avião, como segui-lo ou entrar em combate se for necessário eliminar a ameaça, explicou o major Paulo Gonçalves. A instalação de tomadas de terra junto aos hangares, às quais se ligam os aviões carregados de electricidade estática no fim das missões, é outro programa: está em estudo o nível de condutibilidade da terra na zona, para depois marcar e instalar as tomadas. Até lá, os militares ligam uma ponta de um cabo ao caça e enterram a outra entre placas de cimento no chão. No plano social, ensinam cozinheiros locais a fazer bacalhau à lagareiro, distribuem emblemas e autocolantes às crianças, respondem a cartas de crianças portuguesas - e vão participar, "para perder", num campeonato de bowling.

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