A mais recente ameaça de Ayman al-Zawahiri, número dois da Al-Qaeda, transforma a controversa deslocação dos Reis de Espanha, a partir de amanhã, a Ceuta e Melilla, enclaves no Norte de África, numa viagem de alto risco.
Criticadas pelo Governo marroquino, que não deixa passar a oportunidade de fustigar a "provocação", as autoridades espanholas tentam minimizar a crise aberta entre os dois países e declaram-se surpreendidos com a dureza da reacção de Rabat. O caso pode, porém, adquirir outras proporções com a ameaça de Al-Zawahiri. Numa gravação, o número dois de Bin Laden declarou guerra aos seus aliados americano, francês e espanhol."Ó nação do Islão no Magrebe, a da resistência e da Jihad (guerra santa): eis que os teus filhos se unem sob a bandeira do islão e da Jihade, contra os EUA, a França e a Espanha."
Acresce que a visita dos Reis de Espanha ocorre exactamente 32 anos depois da "Marcha Verde", a ofensiva pacífica lançada por Hassan II contra a administração colonial espanhola para recuperar o território do Sara. A braços com uma grave crise de poder (Franco estava moribundo e morreria duas semanas depois), Madrid negoceia à pressa a saída, deixando para trás um território disputado pela Frente Polisario (apoiada pela Argélia). É também por essa coincidência que os jornais marroquinos clamam contra a "provocação". A crise azedou quando o Governo de Marrocos decidiu chamar a Rabat o seu embaixador em Madrid, em sinal de protesto contra esta "visita lamentável", ao mesmo tempo que organizações próximas do poder começavam a organizar manifestações contra o Rei Juan Carlos.
Aparentemente indiferentes à crise diplomática, os responsáveis pela administração de Ceuta e Melilla continuam os preparativos do que desejam que seja "uma visita memorável", embora por motivos diferentes dos que a imprensa tem noticiado. Nas ruas de Ceuta vêem-se já as primeiras bandeiras espanholas e os proprietários das casas próximas do Ayuntamiento estão a cobrar 600 euros pelo direito a ocupar um lugar na varanda para ver Juan Carlos e Sofia na Praça de África. Haverá feriado e os alunos não terão aulas para que participem na recepção e acompanhem a visita, a primeira de um rei espanhol em 80 anos.
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