Morreu Abílio Osório Soares, o último governador que a Indonésia nomeou para Timor e que viu o seu segundo mandato ser interrompido pela vitória da independência no referendo de 1999.
Ex-dirigente da APODETI, partido que defendia a integração timorense na Indonésia, Abílio Osório Soares foi vítima de um cancro, tendo morrido ontem num hospital de Kupang, no lado indonésio da ilha de Timor. Tido como muito próximo do general Prabowo Subianto, genro do ditador Mohammed Suharto, Abílio Osório Soares, começou a sua ascensão no aparelho administrativo timorense pouco depois da invasão indonésia, em Dezembro de 1975. De responsável pelas obras públicas de Díli passou a presidente da câmara da cidade, sucedendo a Mário Carrascalão como governador do território, em 1992. Interrogado ontem pela Lusa sobre o seu antecessor, o líder do Partido Social-Democrata (PSD) timorense recordou Abílio Osório Soares como "uma pessoa dúbia", afirmando ter conhecido duas pessoas muitas distintas ao longo dos anos. Primeiro foi o integracionista que chegou a ser deportado por ter cooperado com a FRETILIN no final da década de 70. E, depois, o governador que apoiou as milícias pró-indonésias no período que antecedeu o referendo de 1999, criando uma onda de violência que gerou centenas de vítimas. Pelo meio, recordou ainda Mário Carrascalão, ficaram as obras que Abílio Osório Soares impulsionou, explicando que, a partir de certa altura, muitos timorenses o designassem como Abílio Estradas e Pontes. Já depois do referendo que levou Timor-Leste à independência em 2002, Abílio Osório Soares foi considerado responsável ou co-responsável por muitos massacres perpetrados em Timor, tendo sido condenado a três anos de prisão, que nunca chegou a cumprir.
Envolvido em muitas suspeitas de corrupção, Abílio Osório Soares - que deverá ser amanhã enterrado no Cemitério dos Heróis, em Kupang - terá sempre o seu nome associado ao massacre de Santa Cruz, que projectou a causa timorense a nível internacional, a partir do dia 11 de Novembro de 1991. Instado a pronunciar-se, o então governador indonésio de Timor resumiu o que pensava numa única frase: "Muitos mais deviam ter morrido."
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